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Curiosidades gastronômicas… Açorda

Curiosidades gastronômicas…

Um pouco de história sobre… a Açorda!

Acredita-se que as açordas são uma herança árabe no nosso país, tratando-se de um prato de subsistência , consequência de graves crises de carência alimentar, feita com produtos base. O pão é desde sempre o mais básico alimento, presente na nossa cozinha sob diversas formas.

Quando analisamos as fontes e receituário da presença árabe na península encontramos muitas às quais se adicionava pão esfarelado ou cortado grosseiramente. Parece ser esta a origem das açordas. No entanto, quase só na zona sul do país assumimos a designação açorda. Este termo nunca aparece associado às sopas de pão que ainda hoje se confeccionam nas Beiras ou Trás-os-Montes.

No tratado de cozinha árabe, Kitâb-al-tabîj, dos séculos X e XI, de autor anônimo, encontramos a primeira designação de açorda. Noutro tratado, de Ibn Abd al-Ra’uf, também se refere a açorda, com a designação de Tarid ou Tarida, em árabe, que quer dizer pão migado, ao qual se junta alho, e água quente.

Em consulta de dicionários de árabe encontramos ainda o termo Ath thurdâ, que significa sopa com pão.Mas é no século XIII que nos surge o mais famoso tratado da época. Trata-se da obra “Fudalat al-Khiwan…” escrito por Ibn Razin Tujibi entre 1238 e 1266, e cujo título é traduzido, a partir do francês, para “As Delícias da Mesa e os Melhores Tipos de Comida”.

Neste livro há um capítulo dedicado às Panades ( com pão) logo de seguida ao capítulo do pão. Encontramos 25 receitas de Panades, maioritariamente enriquecidas com carnes desde o frango ao capão, passando pelo pombo e borrego ou pelo cordeiro.

Encontramos em Gil Vicente possivelmente a primeira designação de açorda, na Farsa dos Almocreves: “Tendes uma voz tão gorda/ que parece alifante/ depois de farto de açorda”. No primeiro livro de cozinha impresso em Portugal, de Domingos Rodrigues, “A Arte de Cozinha…”, em 1680, é feita uma clara distinção entre caldos e sopas, sendo que estas eram sempre confeccionadas com pão, ou este adicionado no final.

Em 1876 publica João da Mata o seu “Arte de Cozinha” especialmente destinado aos profissionais. Encontramos aqui a açorda com bacalhau, uma sopa de pão à e ainda outras com pão. Essa de açorda não é uma sopa, mas uma açorda muito semelhante às que hoje encontramos. Este livro entra com facilidade no século XX e será o manual dos profissionais da época.

Mas é com Carlos Bento da Maia, edição de 1904, com o título “Tratado Completo de Cozinha e Copa”, que as açordas aparecem como confecção culinária e ilustradas com onze receitas, e fazendo bem a separação das muitas com pão. Estamos na época do aparecimento de restaurantes, e a cozinha regional começa a evidenciar-se.

Em 1936 publica-se o livro “Culinária Portuguesa”, de António Maria de Oliveira Bello no qual é verdadeiramente feito o elogia e defesa da cozinha regional, onde são apresentadas sete receitas de açorda. Já mesmo autor tinha publicado no livro “Culinária”, 1928, uma receita de Açorda de Alhos à enquanto sopa à base de pão, sobre a qual se colocava estrelados preparados à parte, ou ovos escalfados.

Será a partir desta receita que nos aparece a “açorda à alentejana”, que enquanto açorda é a única sopa do nosso receituário regional? Em 1940 publica-se o livro “Volúpia” de Albino Forjaz de Sampaio, muito provavelmente o primeiro livro de gastronomia em Portugal.

Depois a glorificação das açordas como prato completo e a imensa variedade de receituário desde o Douro, toda a costa atlântica com peixes e mariscos, da Beira ao com o bacalhau, e o Alentejo com as carnes de porco e enchidos.

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